Na manhã desta quinta-feira (23), a Biblioteca Geral do Poder Judiciário de Alagoas encerrou os encontros da leitura guiada da obra Um defeito de cor, da escritora Ana Maria Gonçalves. A atividade aconteceu na Escola Superior da Magistratura de Alagoas (Esmal) e teve a mediação da professora Luiza Cristina Silva, do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Ao concluir esta etapa, Luiza destacou o caráter transformador da obra, que evidencia aspectos da história do Brasil silenciados pela historiografia oficial e pelo conhecimento hegemônico.
Essa narrativa nos convida a repensar os referenciais que usamos para compreender o Brasil propondo uma ruptura com a visão eurocêntrica e abrindo espaço para outras cosmologias e matrizes de pensamento, como as iorubás, banto, jejes e fons, afirmou.
Segundo a docente, são histórias como a de Um defeito de cor que tornam as pessoas capazes de mobilizar reflexões e inspirar ações de transformação social.
Ao olhar para o século XIX retratado na obra, conseguimos ampliar nossa compreensão sobre a realidade brasileira e sobre os impactos profundos do processo de escravização. Mais do que um exercício literário, nossos encontros buscaram provocar reflexão e transformação social, inclusive no campo jurídico, a partir dessas outras formas de ver e entender o mundo, ressaltou.
A oficiala de justiça Maura Lúcia também compartilhou suas impressões sobre os quatro encontros, destacando a riqueza da troca de experiências e do aprendizado coletivo.
A protagonista Kehinde representa esse entrelaçamento de histórias que revelam a formação do povo negro no Brasil. Porque, na verdade, os livros de história muitas vezes mascaram o que realmente aconteceu: como foi a vinda das pessoas escravizadas, quem elas eram, o que trouxeram consigo. Essa leitura nos ajudou a entender a grande influência dessas histórias e dessas culturas na construção da história do Brasil, pontuou.
Para Mirian Ferreira Alves, diretora da Biblioteca do TJAL, a realização da leitura guiada representa um marco nas discussões sobre equidade racial no Judiciário, consolidando-se como uma oportunidade de construir novas narrativas sob perspectivas contracoloniais.
"Cada encontro foi uma oportunidade de aprender, de ouvir e de repensar a nossa própria história sob novas perspectivas. Acredito que ações como essa nos ajudam a construir, de forma coletiva, uma justiça mais humana e antirracista", enfatizou.
Mirian avaliou que ações formativas como essa cumprem também um papel estratégico de formação de multiplicadores dentro do Judiciário, estimulando servidores, magistrados e equipes a levarem esses direcionamentos para suas rotinas de trabalho e para os espaços institucionais de decisão.
"Saímos desses encontros com novas perspectivas e sensibilidades, capazes de inspirar mudanças concretas no modo como enxergamos e aplicamos a justiça. Quando o Judiciário se abre ao diálogo com a literatura, com a história e com a ancestralidade, ele também se transforma, tornando-se um espaço mais humano, empático e comprometido com a equidade racial, concluiu.
Filipe Norberto Ascom/Esmal
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