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Notícia
Atualize-se - 20/10/2021 - 11:10:33 -
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres
Artigo de Andrea Santa Rosa, servidora do TJAL e membro do Clube do Livro Direito e Literatura , sobre obra de Clarice Lispector

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres*

Andrea Santa Rosa é servidora do Tribunal de Justiça de Alagoas e membro do Clube do Livro Direito e Literatura


Escrito em 1969 por Clarice Lispector, uma das maiores autoras da literatura brasileira, “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” nos traz a história do processo de autoconhecimento de Lóri. Oriunda de uma família rica da cidade de Campos, Lori é uma jovem professora primária, que se muda para a cidade do Rio de Janeiro, onde passa a morar sozinha, em busca de mais liberdade. Solitária, Lóri sente grandes dificuldades em estabelecer contato com outras pessoas; suas relações pessoais são basicamente restritas aos colegas de trabalho e a uma única amiga: a cartomante com quem se consulta alguma vezes. A personagem era dotada um grande medo do sofrimento, o que faz com que estabeleça uma rotina monótona, baseada no seu trabalho e em encontros amorosos superficiais.

Certo dia, enquanto tentava pegar um táxi em meio a uma chuva, Lóri conhece Ulisses, um professor universitário de filosofia, que lhe oferece uma carona, após se sentir fisicamente atraído por ela. A partir de então, eles começam a se encontrar com frequência, sem, contudo, estabelecerem um relacionamento amoroso propriamente dito, pois, de acordo como Ulisses, Lóri não estava pronta para o amor. Para o professor de filosofia, a jovem precisava passar por uma aprendizagem, antes de vivenciar uma relação verdadeira com alguém e ele se propõe a ser o facilitador de tal processo.

Envolvida por Ulisses, Lóri estabelece em relação a ele um vínculo de dependência e, em alguns casos, até mesmo de inferioridade. O professor universitário reforça tais sentimentos, colocando-se constantemente como alguém que está em um estágio mais avançado no processo de aprendizagem. Em determinados momentos, o personagem chega a diminui-la falando da sua aparência física – apesar de ter sido isso o que, inicialmente, o atraiu – e das suas experiências amorosas anteriores.

Narrado em terceira pessoa, mas sob a perspectiva de Lóri, o livro possui pouca ação, fundando-se, principalmente nos diálogos estabelecidos entre Lóri e Ulisses – basicamente, os únicos personagens da trama – e nos pensamentos e sentimentos da jovem professora, apresentados por Lispector em fluxo de consciência. Decerto, o objetivo da autora não foi apresentar ao leitor uma narrativa dinâmica, marcada pela sucessão de fatos e eventos nas vidas do casal protagonista, mas sim permitir que ele mergulhasse e acompanhasse de perto o processo de amadurecimento dos personagens, objetivo que ela consegue alcançar com maestria.

Ao longo o livro, Lóri começa a olhar mais para si mesma, encarando suas sombras e descobrindo o seu papel no mundo. Embora empenhada no seu processo de autodescoberta, por vezes, a personagem oscila nessa caminhada. No entanto, em determinado momento, ela percebe que, uma vez iniciada a jornada, não é possível retroceder. Reconhecer-se como humano traz consigo dores e sofrimento, mas apenas admitindo a nossa humanidade podemos, também, desfrutar do prazer que é estar vivo:


“Lóri estava triste. Não era uma tristeza difícil. Era mais como uma tristeza de saudade. Ela estava só. Com a eternidade à sua frente e atrás dela. O humano é só.

Ela quis retroceder. Mas sentia que era tarde demais: uma vez dado o primeiro passo este era irreversível, e empurrava-a para mais, mais, mais! O que quero, meu Deus. É que ela queria tudo.

Como se passasse do homem-macaco ao piteracantropus erectus. E então não havia como retroceder: a luta pela sobrevivência entre mistérios. E o que o ser humano mais aspira é tornar-se um ser humano.

(...)

Estava caindo numa tristeza sem dor. Não era mau. Fazia parte, com certeza. No dia seguinte provavelmente ria alguma alegria, também sem grandes êxtases, só um pouco de alegria, e isto também não era mau.

Era assim que ela tentava compactuar com a mediocridade de viver.

Mas era tarde: ela já ansiava por novos êxtases de alegria ou de dor. Tinha era que ter tudo o que o mais humano dos humanos tinha. Mesmo que fosse a dor, ela a suportaria, sem medo novamente de querer morrer. Suportaria tudo. Contanto que lhe dessem tudo.

Não. Ninguém lhe daria. Tinha que ser ela própria a procurar ter. Inquieta, andava de um lado para outro do apartamento, sem lugar onde quisesse se sentar. Seu anjo da guarda a abandonara. Era ela mesma que tinha que ser sua própria guardiã.

E tinha agora a responsabilidade de ser ela mesma. Nesse mundo de escolhas, ela parecia ter escolhido” (p. 70/71).


Esse fluxo de pensamento demonstra todo o amadurecimento de Lóri. Embora o medo do sofrimento ainda se fizesse presente em sua vida, ela já havia internalizado que, buscar uma vida sem dor, além de não lhe poupar do sofrimento, contribuiria para aumentar a sua angústia, uma vez que o medo de sofrer a impedia de viver uma vida plena, experimentando os pequenos e grandes prazeres existentes no mundo.

Após todas essas reflexões. Lóri vive um momento transformador, quando resolve ir sozinha à praia existente perto da sua casa, nas primeiras horas da manhã. Ainda que pareça algo simplório, tal decisão representa a consolidação do seu amadurecimento, sendo uma das passagens mais potentes do livro. Cada mergulho dado no mar representava um mergulho dado pela personagem dentro de si mesma. Ela, que durante muito tempo evitou olhar para si mesma, agora era capaz de enxergar toda a sua humanidade e o seu potencial para viver.

O processo de autoconhecimento, contudo, não é linear e, mesmo após esse momento de epifania, Lóri volta a sentir-se angustiada e perdida. Já se conhecendo um pouco melhor que antes, a professora diz a Ulisses que precisa ficar algum tempo sem vê-lo para se reencontrar. Durante esse pequeno período de afastamento, Lóri continua na sua busca pelo mundo e pela vida, alcançando mais alguns pequenos avanços, como estabelecer contato com uma estranha no ponto de ônibus – o que para alguém tímida como ela, seria impensável. 

Impaciente com a espera, Ulisses entra em contato com a professora, ansiando encontrá-la. Nesse encontro, fica evidente que Lóri não tem mais em relação a Ulisses aquela sensação de dependência de antes. O que os une, agora, é tão somente o amor. Percebendo que Lóri estava, enfim, pronta, para dar início a uma relação amorosa, Ulisses diz que vai esperá-la em casa, dia após dia, para que eles possam, finalmente, vivenciar esse amor.

Apesar de ter passado toda a narrativa em busca da aprovação de Ulisses, Lóri não corre ao seu encontro, como era de se esperar. Ao contrário, a moça segue com a sua rotina normal por dias, até que, em determinado momento, acorda no meio da noite para beber água e começa a refletir sobre a fome de viver, sobre quem era ela e sobre as dores e angústias da vida. Ao se deparar com a simplicidade da chuva que começa a cair e sentindo-se viva e mansamente feliz, sentiu vontade de finalmente, encontrar Ulisses. O encontro entre o casal de professores e a experimentação de todo aquele amor por eles construído são dotados lirismo ímpar, sendo, provavelmente, uma das passagens românticas mais bela da literatura brasileira.

“Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” é um livro intimista que nos convida a olharmos para nós mesmos e a perguntarmos quem, de fato, somos e que vida estamos vivendo e desejamos viver. As angústias e questionamentos experimentados por Lóri são, também, vivenciados por todos nós em algum momento de nossas vidas, o que demonstra a universalidade e a atemporalidade da obra. A escolha da autora em começar o livro com uma vírgula e encerrá-lo com um travessão, nos mostra como o processo de aprendizagem é contínuo e não possui termo final; não sabemos ao certo quando ele começou e, certamente, nunca podermos considerá-lo finalizado.

* A obra 'Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres', de Clarice Lispector, está disponível para empréstimo na Biblioteca Geral do Judiciário, que, além das obras de cunho jurídico,  também conta com uma nova coleção composta por obras de literatura. Os romances, contos, livros de poesia, crônicas, obras clássicas e contemporâneas, estão disponíveis para empréstimo a servidores/as, estagiários/as e magistrados/as do Poder Judiciário de Alagoas. 

 A nova coleção faz parte do conjunto de ações do 'Projeto Justiça que Lê', que tem como objetivo tornar o Poder Judiciário de Alagoas uma grande comunidade de leitores. Clique para consultar o Catálogo On-line e escolher um título, que pode ser entregue pelo sistema de delivery para o
 Fórum, a sede do Tribunal e a Corregedoria. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (82) 2126-5350 ou pelo e-mail bibliotecageralesmal@gmail.com. 




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