Intrajus Webmail
            
Início
  • Início
  • Institucional
    • Administração
    • As origens da Esmal
    • Galeria dos Ex-diretores
    • Organização
    • Fale Conosco
  • Coordenações
    • Coordenação de Geral de Cursos
    • Coordenação Pedagógica
    • Coordenação de Cursos para Magistrados
    • Coordenação de Cursos para Servidores
    • Coordenação de Pesquisas
    • Coordenação de Projetos Especiais
  • Notícias
    • Notícias
    • Atualize-se
    • Podcast
    • Vídeos
  • Espaço Físico
  • Cursos e Seleções
    • Cursos para Magistrados
    • Cursos para Servidores/Serventuários
    • Cursos Abertos ao Público
    • Cursos a Distância
    • Concursos e Seleções
    • Seleção para Estágio
  • Serviços
    • Ramais
    • Convênios
    • Credenciamento de Professores
  • Transparência
  • Banco de Sentenças
  • Biblioteca
Notícia
Atualize-se - 07/01/2021 - 05:01:24 -
O Mercador de Veneza
Artigo de Ana Paula de Melo Gomes, servidora do TJAL, sobre obra de William Shakespeare que trata de justiça e preconceito

O Mercador de Veneza¹

 Artigo de Ana Paula de Melo Gomes, servidora do TJAL,

sobre obra de William Shakespeare que trata de justiça e preconceito 


 A genialidade dos discursos de Shakespeare imortalizou suas obras. Autor, ator, dramaturgo, poeta. De naturalidade inglesa e com poucos dados biográficos revelados, alguns duvidam até mesmo de sua existência. Segundo o historiador Leandro Karnal, tal nebulosidade se deve ao fato de associarem os grandes nomes daquele período a homens que frequentavam uma Universidade. Para ele, estudioso de Shakespeare, justamente o fato de o autor não ter frequentado uma Universidade é o que pode lhe ter concedido essa maior liberdade para a escrita². 

Em que pese todo o seu renome, diante da originalidade e da criatividade de suas obras, impossível não iniciar o presente artigo sem um registro sobre o autor.

Pois bem. A obra em comento traça uma diversidade de temas ainda hoje não superados: intolerância religiosa, racismo, desigualdade de gênero. Ao mesmo tempo, trata de relações de amizades fraternais, de amor e de cumplicidade.

Escrita no final do século XVI, a história se passa em Veneza, com personagens bem destacados, como Antônio, um nobre mercador, com sua fortuna em mercadorias que atravessam os mares em seus navios; e Shylock, um agiota, viúvo e com uma única filha. Poderíamos ainda recomeçar por caracterizá-los como o próprio enredo nos fala: um é cristão e o outro, judeu. Ambos nos levam a uma reflexão sobre o respeito ao próximo - às suas crenças e às suas histórias. 

Assim têm sido os personagens de Shakespeare: apresentados pelo avesso, trazendo ao leitor os mais instigantes contextos e a oportunidade de fazê-lo refletir sobre a condição humana.

Na época desta peça os judeus viviam à margem da sociedade, residiam em guetos e usavam boinas vermelhas que os identificavam perante os demais. A trajetória dos judeus, a trágica segregação e, pior ainda, o antissemitismo, dolorosamente são vistos do início ao término do livro, quando Antônio desrespeita Shylock, com ofensas à sua origem, à sua cultura e à sua religião, literalmente cuspindo nele, e por fim o que se verá adiante – uma condenação pessoal. 

É imperioso registrar que para os judeus não havia a liberdade de desenvolver atividades profissionais, razão pela qual muitos começaram a emprestar dinheiro a juros. Da narrativa vimos que os cristãos condenavam esta modalidade de lucro, mas percebemos também que essa foi a maneira encontrada para sobreviverem.

Por ironia do destino, Antônio, diante da grande simpatia por seu amigo Bassânio, coloca-se na qualidade de fiador num contrato de empréstimo da quantia de três mil ducados, em que o credor é justamente Shylock. 

O autor demonstra uma forte amizade entre Antônio e Bassânio, ao ponto de Antônio aceitar facilmente a garantia contratual proposta por Shylock, que correspondia a uma libra exata da carne do corpo do fiador. Antônio estava confiante de que dentro do prazo estipulado para o pagamento do empréstimo um de seus navios estaria aportando na cidade. Contudo, todos foram surpreendidos com o naufrágio em pleno Canal da Mancha.

Bassânio havia necessitado desse dinheiro para se fazer apresentável para Pórcia, uma mulher inteligente, muito bonita, a quem o pai deixou em testamento condições para a escolha de quem a desposasse, elaborando o que foi chamado de loteria do destino, em que seus pretendentes optariam entre três baús. Ele, estratégico, escolheu o baú correto.

Durante a celebração do matrimônio de Bassânio e Pórcia, uma carta de Antônio chega noticiando a tragédia que estava na iminência de acontecer: pagaria o débito com sua carne, pois perdera sua fortuna.

Diante dessa notícia que o afastou da festividade, Pórcia, enamorada, busca ajudar seu marido, dispondo-se a pagar a dívida pelo dobro e até pelo triplo. Retorna Bassânio para Veneza, mas Shylock estava decidido a aceitar apenas a libra de carne de Antônio, no sentimento de vingança por todo vilipêndio sofrido anteriormente. Nisto inicia-se o julgamento perante o Tribunal Veneziano.

Pórcia - comovida com a situação desencadeada e disfarçada como homem - apresenta-se no julgamento como o advogado de Antônio. Após todas as tentativas de negociação, sabiamente encontra um caminho e argumenta que Shylock teria uma libra da carne de Antônio, mas não poderia derramar uma só gota de sangue. 

Podemos dizer que ela foi implacável. Analisando o contrato ao nosso tempo e na legislação brasileira, nítido se verifica a má-fé de Shylock. Mas ali não houve simplesmente uma nulidade do negócio jurídico, mas uma decisão injusta e que se enquadra perfeitamente no instituto da ultra petita, ferindo o Princípio da Congruência³.

Evocando a realidade da época, tristemente, e por que não dizer desumanamente, a sentença proferida condenou Shylock a se converter ao Cristianismo. Figura-se aqui a falta de proteção do ser humano, a força da intolerância religiosa que, inclusive, levara tantos judeus dentre outros povos à fogueira durante a Inquisição.

Antagônicos os personagens, sim. Da maneira mais humilhante possível, uma pessoa foi sentenciada a ser batizada em outra crença. 

Os judeus continuam sendo discriminados, acusados pela morte de Jesus Cristo. Enquanto Deus prega o amor e o perdão. Deus não distingue seus filhos e na Cruz perdoou todos os pecados.

Transcrevo a seguir as palavras de Shylock ao se defender numa emocionante passagem do texto:

Eu sou um judeu. Judeu não tem olhos? Judeu não tem mãos, órgãos, dimensões, sentidos, impulsos, sentimentos? Não se alimenta também de comida, não se machuca com as mesmas armas, não está sujeito às mesmas doenças, não se cura pelos mesmos métodos, não passa frio e não sente calor com o mesmo verão e o mesmo inverno que um cristão? Se vocês nos furam, não sangramos? Se nos fazeis cócegas, não rimos? Se nos envenenam, não morremos? E, se vocês nos fazem mal, não devemos nos vingar? (Terceiro Ato, Ato 3, Cena I)

De similar relevância nos foi apresentado o papel de Pórcia, uma mulher inteligente, que precisou se “camuflar” na pele de homem para exercer a advocacia. Situação que através de um clássico como esse, se perpetua no tempo, veio e vem a mostrar para as gerações seguintes o quão difícil foi e ainda é a trajetória da mulher. Hoje, após muitas dificuldades, possuem um espaço maior e autonomia de voz, frutos esses que ainda se há de colher paulatinamente, incansavelmente. 

Outros personagens também marcam essa história. É o caso da filha de Shylock, que, reprimida pelo pai por amar um homem cristão, decide fugir, aproveitando a ocasião da noite de carnaval, tradicional festa veneziana que cultiva até os tempos atuais as célebres máscaras.

Essas foram às circunstâncias em que Shakespeare escreveu a peça. Evidenciou uma mulher sem posição de voz ativa, mas que é ela quem encontra a solução para salvar Antônio da morte. Enaltece o amor na relação de amizade entre Antônio e Bassânio. O ódio e a vingança que persistem a tomar conta de alguns homens, como o ódio de Antônio pelos judeus e a vingança de Shylock pelas atrocidades e humilhações sofridas. Vingança que não se justifica, não se aceita, mas que se faz passível ao ser humano em seu momento de fraqueza.

Com esta breve explanação, espera-se que a obra chegue a quem ainda não a leu, na certeza de que a riqueza dos detalhes de Shakespeare é um deleite que percorre todo o diálogo, em que se apresentam outros fatos interessantes aqui não contados. Livro que pela sua essencialidade infere questões imprescindíveis para o debate e atenção em nosso cotidiano.

¹ SHAKESPEARE, William. O Mercador de Veneza, tradução de Beatriz Viégas-Faria, L&PM POCKET

² QUEM foi ou quem é William Shakespeare? 2018. 1 vídeo (1h20min06seg). Publicado pelo canal Leandro Karnal – Admiradores. Disponível em: https://youtu.be/xrhde_lfTpU. Acesso em : 11 de dez. 2020.

³ Ultra petita – quando no julgamento o magistrado decide além dos pedidos do autor. Princípio da Congruência (ou da adstrição) – enuncia que o juiz deve se limitar aos pedidos da parte.








Curta a página oficial do Tribunal de Justiça (TJ/AL) no Facebook. Assista aos vídeos da TV Tribunal, visite nossa Sala de Imprensa e leia nosso Clipping. Acesse nosso banco de imagens. Ouça notícias do Judiciário em nosso Podcast.


Acesse














Comunicação
Divulgação




Institucional
Administração
As Origens da ESMAL
Galeria dos Ex-diretores


Organização
Constituição do Estado de Alagoas
Código de Organização Judiciária
Regimento Interno
Legislação/Atos Administrativos
Organograma


Coordenações
Coordenação Geral de Cursos
Coordenação Pedagógica
Coordenação de Cursos para Magistrados
Coordenação de Cursos para Servidores
Coordenação de Pesquisas
Coordenação de Projetos Especiais


Notícias
Notícias
Podcast
Vídeos


Espaço Físico


Cursos e Seleções
Cursos para Magistrados
Cursos para Servidores/Serventuários
Cursos Abertos ao Público
Cursos para Estagiários


Transparência


Serviços
Ramais
Convênios
Credenciamento de Professores


Banco de Sentenças


Biblioteca





ESMAL - Escola Superior da Magistratura do Estado de Alagoas
Rua Cônego Machado 1061, Farol, CEP 57.051-160, Maceió -Alagoas - Brasil.
Fone: (0**82) 2126-5399. CPNJ 08.771.179/0001-92.