“Nossa sociedade tem muita dificuldade em se entender uma sociedade racista, o que é um problema tão grande quanto o próprio racismo”. É o que disse Laila Oliveira, pesquisadora e mestra em Comunicação Social pela Universidade Federal de Sergipe, em sua palestra “Vozes negras: despertando a consciência a partir da leitura“. O evento fez parte da 5ª edição da Semana do Livro e da Biblioteca.
A palestra foi transmitida pelo canal do TJAL no YouTube na quarta-feira (10) e pode ser assistida na íntegra clicando neste link.
A fala da pesquisadora Laila Oliveira começou com uma breve história de todo o mal sofrido pela população negra desde que chegou ao Brasil, o que é refletido até os dias de hoje por conta do chamado racismo estrutural, onde as pessoas acabam por ter atitudes racistas de maneira indireta, como fazer críticas a cabelos crespos, narizes largos e outras características típicas de pessoas negras.
Apesar de todo o sofrimento da população negra, a mestra em comunicação reforçou a capacidade de resistência dessa parcela da sociedade, que luta ao longo dos séculos e até os dias atuais para conquistar seu lugar.
“Da população negra foi tirado tudo. Moradia, finanças, conhecimento. É uma população que resiste todos os dias para poder ocupar os espaços merecidos. Resistência para poder existir, até mesmo para poder sobreviver”, disse a pesquisadora.
Ela seguiu a palestra salientando que durante infância, normalmente as criança brasileiras não conhecem figuras negras representativas em sala de aula, nos livros, com os professores. Laila afirmou que tal realidade, construída a partir de uma perspectiva eurocêntrica, reflete muito um apagamento dessa população, uma vez que a negritude geralmente só é discutida nos anos escolares iniciais quando o tema é escravidão.
“Se isso fosse diferente e tivéssemos contato com autores negros desde a infância, cresceríamos tendo em mente que há possibilidade de sucesso de pessoas negras. É muito importante que, desde a infância, seja possibilitado o acesso a referências negras”, continuou Laila.
A pesquisadora prosseguiu falando sobre a contradição da maioria da população brasileira ser negra, mas em espaços de representação como as universidades, os poderes legislativo e judiciário, praticamente não há negros ocupando cadeiras de relevância. Ela explicou ainda o termo “normatividade”, que é quando existe uma norma, um padrão a ser seguido. Nesse caso, segundo ela, o padrão de pessoas ocupando posições de poder, na maioria das vezes, é o do homem, branco e heterossexual.
Retomando a importância de ler autores negros, Laila citou o livro “O perigo de uma história única”, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, no qual a autora discorre sobre a gravidade dos acontecimentos históricos sempre serem narrados do ponto de vista eurocêntrico.
“Precisamos falar sobre a importância da ampliação de vozes que contam nossas histórias. Imagina a diferença que seria ter acesso ao ponto de vista de uma pessoa negra em relação à história de sua população?”, indagou a pesquisadora.
Logo em seguida, ela listou uma série de autoras negras de extrema importância para o Brasil e para o mundo, como Carolina Maria de Jesus, Jarid Arraes, Conceição Evaristo, Mãe Estela de Oxóssi, Djamilla Ribeiro, Angela Davis, Chimamanda Ngozie e Ayesha Harruna Attah.
Ao fim do encontro, Mirian Alves, diretora da Biblioteca Geral do Judiciário contou que o espaço possui um acervo de mais de 400 obras literárias, inclusive alguns dos citados por Laila ao longo da palestra. Ela citou ainda algumas obras de autores negros discutidas pelo Clube do Livro, como O Crime do Cais do Valongo, Torto Arado e Marrom e Amarelo.
“Para além de manter um acervo ou disponibilizar informação, também é papel da biblioteca criar esses espaços de discussão e reflexão. Vivemos num país racista, que desconhece sua história e tem dificuldade em reconhecer tudo o constitui. E essa é uma oportunidade de ampliar o nosso entendimento e desconstruir preconceitos”, disse Mirian.
Carolina Amancio e Mauricio Santana - Esmal TJAL
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