Diversidade religiosa, quebra de estereótipos raciais e de gênero, diálogos sobre privilégios de cor e ações de combate à discriminação foram alguns dos assuntos abordados, nesta sexta-feira (7), no estande da Escola Superior da Magistratura de Alagoas (Esmal) na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Neste oitavo dia de atividades, as ações da Coordenadoria dos Direitos Humanos do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) e a da Comissão de Equidade Racial ganharam destaque. Os visitantes do estande foram convidados a participar de jogos interativos, diálogos e dinâmicas.
Compromisso social do Judiciário
Para o coordenador de Direitos Humanos do TJAL, Pedro Montenegro, expor os trabalhos desenvolvidos pelo seu setor no maior evento literário do estado significa reafirmar a preocupação do Poder Judiciário com a população que o utiliza.
Um dos maiores desafios que o sistema de justiça tem é conseguir essa aproximação com a sociedade. A presença dele aqui nessa Bienal é fundamental para mostrar o compromisso social do Tribunal com esses temas que são tão caros à população, como por exemplo, a escravidão que, por muito tempo, foi secundarizada, destacou Pedro Montenegro.
O juiz responsável pela Comissão de Equidade Racial, Vinicius Augusto, explicou como foram produzidas as dinâmicas das quais os visitantes puderam participar e refletir sobre o papel do Judiciário na sociedade.
Trouxemos a Caminhada do Privilégio Racial, uma atividade em que as pessoas são convidadas a refletir sobre sua trajetória de vida, identificando situações que possam ter favorecido ou dificultado seu crescimento pessoal e profissional. Também apresentamos a Caixa de Diálogo, que propõe reflexões sobre mitos sociais e oferece novas perspectivas sobre eles, explicou.
O magistrado também pontuou que a participação do Judiciário na Bienal é uma oportunidade de mostrar que o cotidiano do sistema judicial não é moldado apenas pela resolução de processos e questões criminais, mas que envolve temas contemporâneos de variadas esferas.
Nicoly Magalhães, estudante do Colégio da Polícia Militar da Unidade Agreste, contou que levará o aprendizado da caixa de diálogo para sua vida. Ela ainda levou consigo um exemplar da Bibliografia de Letramento Racial, organizada pela Biblioteca do TJAL em 2024 e está no escopo de ações da Comissão de Equidade racial no estande.
É muito raro, pelo menos na minha realidade, eu poder conseguir falar sobre esse tipo de assunto, então poder conversar com alguém foi muito importante. Eu vou revirar essa Bibliografia aqui várias vezes, e com certeza vou pesquisar bastante, pelo tanto que eu gosto muito de falar sobre esse assunto".
Estudantes participam da atividade Caixa de Diálogo, conduzida pelo juiz Vinícius Augusto. Foto: Filipe Norberto - Ascom/Esmal
Exercício do direito à religião
Em seguida, os visitantes puderam conhecer o projeto Makuiu- Nzambi, que significa "a benção vem de Deus", iniciativa de assistência religiosa prestada aos reeducandos do Sistema Prisional de Alagoas que professam religião de matriz africana.
O babalorixá Pai Manoel de Xoroquê, que lidera o grupo, respondeu à caixa de diálogo, elucidando dúvidas sobre a atuação no acolhimento espiritual.
Estamos tendo muito apoio do poder público com esse projeto pioneiro. As pessoas estão tendo impacto. Trazemos aqui nossa vivência nos obstáculos. Esse momento está sendo muito mágico para mim. Tenho visto o reconhecimento por parte das pessoas de santo, das casas de santo e muitos babalorixás me procuram para me parabenizar, relatou.
Público acompanha as explicações do babalorixá Pai Manoel de Xoroquê sobre o projeto Makuiu NZambi,. Foto: FIlipe Norberto - Ascom/Esmal
Cinthya Moreno, que também faz parte do Makuiu- Nzambi, parabenizou a parceria com o TJAL e reforçou a relevância dentro e fora das unidades.
Todos os atores da sociedade precisam conhecer uma iniciativa dessa magnitude dentro do sistema prisional. Queremos alcançar nossos irmãos e irmãs de matriz africana, porque muitas pessoas estão há mais de dez anos sem receber assistência religiosa. Essas pessoas, além de se sentirem excluídas por estarem presas, acabam se sentindo duplamente excluídas por causa de sua religião de origem, ressaltou.
Cinthya também salientou o caráter simbólico da presença do grupo na Bienal. Nossa presença aqui na Bienal é para reforçar isso: que o direito à liberdade religiosa precisa ser garantido a todos. Se outras pessoas privadas de liberdade têm acesso à sua fé, por que não as de religiões de matriz africana? É isso que queremos: mostrar que elas existem, resistem e têm o mesmo direito de exercer sua crença dentro do sistema prisional, sintetizou.
Filipe Norberto Ascom Esmal /TJAL
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