Intrajus Webmail
            
Início
  • Início
  • Institucional
    • Administração
    • As origens da Esmal
    • Galeria dos Ex-diretores
    • Organização
    • Fale Conosco
  • Coordenações
    • Coordenação de Geral de Cursos
    • Coordenação Pedagógica
    • Coordenação de Cursos para Magistrados
    • Coordenação de Cursos para Servidores
    • Coordenação de Pesquisas
    • Coordenação de Projetos Especiais
  • Notícias
    • Notícias
    • Atualize-se
    • Podcast
    • Vídeos
  • Espaço Físico
  • Cursos e Seleções
    • Cursos para Magistrados
    • Cursos para Servidores/Serventuários
    • Cursos Abertos ao Público
    • Cursos a Distância
    • Concursos e Seleções
    • Seleção para Estágio
  • Serviços
    • Ramais
    • Convênios
    • Credenciamento de Professores
  • Transparência
  • Banco de Sentenças
  • Biblioteca
Notícia
Atualize-se - 14/09/2020 - 12:09:03 -
O sonho de um homem ridículo
Artigo da servidora do TJAL Ana Paula de Melo Gomes sobre o conto de Fiódor Dostoiévski

O sonho de um homem ridículo 

Ana Paula de Melo Gomes é servidora do Tribunal de Justiça

de Alagoas e membro do Clube do Livro: Direito e Literatura


O sonho de um homem ridículo é um conto de autoria do russo Fiódor Dostoiévski, considerado pela crítica como um dos maiores escritores da literatura russa, indubitavelmente um dos grandes autores romancistas mundiais. A escrita de Dostoiévski tem como essência a interpretação do interior humano. Suas obras são extremamente peculiares pela forma de tecer textos e tantos contextos na construção da imagem do Eu.

A abordagem deste assunto – a psiquê -  denota toda uma escrita voltada para a psicologia humana ao propor ao leitor uma reflexão, quiçá um autojulgamento, porém muito sensível às condições humanas. No livro em apreço, publicado no ano de 1877, o autor trata do tema do existencialismo, através do dilema do bem e do mal, utilizando da solidão do personagem-narrador para desnudar a alma humana. 

Pois bem. O ser humano é um universo curioso, instigante, e o autor, por meio deste monólogo, conduz o leitor a interpelar em dois mundos, o real e o do sonho. No primeiro, por entre as ruínas de um quarto onde o personagem deseja tirar sua própria vida, mas é interrompido por um encontro inesperado ocorrido momentos antes, o que o faz trair esse desejo tão antigo de partir deste mundo. O universo idílico se apresenta após o personagem adormecer em sua poltrona e o sonho, aparentemente mágico, manifestar-se por meio de divagações entre seres puros, abstraídos de todas as maldades e malícias humanas. O homem de Dostoiévski, contudo, corrompe aquele ambiente harmonioso, transmitindo, como por osmose, a carga negativa da mentira e, aos poucos, contaminando o próximo num ciclo vicioso. No sonho, ele se constrange por ver aquela intriga inesperada em meio ao que era plenitude e se põe a questionar seu propósito no mundo, com relances da autoconsciência.

Buscando retratar o inconsciente humano por meio deste sonho utópico, a felicidade do personagem percorreu como em diáspora dos desejos de uma vida perfeita, ora desfeitos pela sua consciência. Seria então o personagem um homem ridículo? Ridículo por ter a consciência de suas negatividades como homem? Ridículo por cobrar de si a perfeição incapaz de existir? Ridículo, porque questionava sua própria existência?

No início da história ele está absorvido pela ideia de que todos o consideram um ridículo e ele próprio tem essa consciência, como se pode ver na presente transcrição:


Todos riam de mim, o tempo todo. Mas ninguém sabia,

nem suspeitava que, se havia na Terra um homem mais sabedor do

fato de que sou ridículo, esse homem era eu, [...] (pág. 91)



Cumpre registrar que toda leitura resulta em compreensões de texto que podem ser diferentes e até divergentes, a depender muito de concepções pré-estabelecidas, das experiências de vida e de linguagem de cada leitor. Por isso que ao ler, talvez em outra circunstância social ou mesmo sentimental, o  sujeito pode ter uma nova compreensão acerca do mesmo texto. Mas a interpretação, essa retrata o texto na essência do autor, por isso é importante conhecer um pouco sua trajetória, a época da sua escrita e o que se tem de atemporal para ser considerado um clássico da literatura mundial.

A percepção pessoal sobre a obra nos move para sentimentos de amor-próprio, empatia e de convívio com as crenças, como a fé naquilo que te torna homem, no seu propósito aqui na Terra.

A história se inicia com uma cena aparentemente (exteriorização das palavras em nossa imaginação) numa rua escura, fria, com o narrador-personagem apressado para ir ao seu refúgio (quarto) para subtrair sua vida, com a certeza de que desta vez tudo que arquitetava e tanto queria seria finalmente concretizado. Estava com a falsa impressão da coragem, e nisso surge, como que do nada, uma criança que puxa sua roupa pedindo ajuda. O homem, mesmo ouvindo o apelo de uma menina aflita pela necessidade de socorro para sua mãe, só se importava como tirar sua vida. Seu pensamento era voltado para o revólver sobre a mesa, aquele que por tantas vezes o esperou. Naquela noite ele não desistiria.

A menina, em seu desespero, agarra-se com esperança a outro transeunte, e o homem segue para seu destino final como que afugentado pelo mundo. Esses foram os instantes cruciais para que, na tentativa de atirar em si mesmo, viesse a adormecer e sonhar com um paralelo existencial. Após a surpresa por conviver com pessoas puras, devotadas ao bem, o homem passa por um momento de sobriedade quanto à consciência de ser um homem pequeno de atitude, incapaz de se sensibilizar com uma criança indefesa e de restaurar a sua paz.

Com efeito, uma carga de negatividade e culpa o afligiram. Neste particular do personagem, há de se compreender que os atos de bondade refletem no próprio sujeito ativo e ele teria sido incapaz de fazer algo de significativo para aquela menina, ocorrendo-lhe a sensação de egoísmo e o reconhecimento de que a todo tempo ele somente se importava com sua “identidade” de ridículo. A sua omissão, contudo, é que pode ser considerada ridícula.  Ele ignorava as pessoas por saberem que o achavam ridículo e as pessoas o achavam ridículo por que se sentiam ignoradas. São semelhanças com o nosso dia a dia. Quantas vezes nos deparamos com situações que nós próprios criamos. A imaginação pode dar asas para um voo feliz, mas também pode nos tornar como ostras, fechadas, sem a percepção de sua grandiosidade por dentro.

Do paradoxo de seu sonho, a aflição foi o ápice para o homem descobrir sua libertação e não há como negar que a menina exerceu o papel da sua mais plena consciência, chamando-o para compreender melhor a vida. Muitas vezes é a compreensão do que se está vivenciando que nos torna fortes. É como lutar diariamente contra um câncer. Quanto mais conhecimento do seu diagnóstico, mais se saberá como reagir.

Essa conectividade percebida no sonho faz despertar para uma organização de suas ideias e perspectivas de vida, e com isso o autor faz perceber a importância de se ouvir, de se permitir ser ouvido, de buscar o autoconhecimento. 

Este sonho, ao meu sentir, seria um psicólogo catalogando tudo que o personagem pudesse minuciar e jorrar para fora de si, e quando ele reconhece o significado de ajudar/cuidar, é como se ele pudesse ver as imagens da sua vida passando numa TV, estaria se conhecendo e buscando aprimorar as suas qualidades e, principalmente, reconhecer os seus erros e buscar consertar o que for possível.

Nota-se que é um texto muito subjetivo e, como nos sonhos, cheio de nuance, tecendo a alma humana como assunto. Na temática principal a resistência às frustrações da vida, numa roupagem que veste a cada um de nós. O que se evidencia pelo fato dele pensar em atirar na sua cabeça e no sonho pensar justamente em atirar no coração. Por quê? Qual o significado? O de que a dor estava na alma e que não queria tirar sua vida, mas sim a sua dor. Ou ?

O livro faz uma ponte com diversos outros títulos clássicos da literatura, mas, a mim, em especial com o da escritora inglesa Mary Shelley, com seu famoso livro Frankenstein. Um romance da escola gótica, com traços de horror e terror, porém no mesmo universo de autoconhecimento. Conexões estas que são muito valiosas numa leitura, o que demonstra a interação de obras para o firmamento de nossas convicções como pessoa, cidadão.

O que a criança pode representar ao leitor? Paradoxalmente, a vista de seus problemas e o despertar para as soluções. Como ensinamento, para não darmos às costas aos nossos problemas, mas enfrentá-los, e sempre seguir e prosseguir. Que nas diversidades encontramos a força.

Então nos perguntamos: quem o considerava ridículo seria o homem perfeito? Ou menos ridículo? Isso evidencia também os olhares críticos quando o próximo precisa de acolhimento social. 

Quem sabe a criança seja a Pandemia COVID-19 pedindo socorro para o mundo. E quem seria perfeito para julgar? Assim firmamos na leitura a nossa fonte de conhecimento, provocações de discussões de temas diversos, e que nos serve de instrumento para combater a ignorância e os pré-julgamentos.

A leitura tem que ecoar do ser do leitor ou não se está completa a magnitude do conhecimento. É ler sobre fatos discriminatórios e não se calar. Se tudo que lemos não servir para que em nossos lares, em nossos trabalhos, enfim, em sociedade, tratemos todos com igualdade e respeito, terá sido em vão. 

Conclui-se que o personagem-narrador tem a natureza sensível, representa bem situações de depressão vivenciadas por boa parte da população, e a menina é a esperança, que despertou o sentido de sua vida e, através do sonho, o fez refletir sobre tudo que estava vivendo, em que pese as dificuldades, não desistiu de viver.


DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Duas narrativas fantásticas: A dócil e O sonho de um homem ridículo, tradução, prefácio e notas de Vadim Nikitin, São Paulo: Editora 34, 2017, 4.ª Edição.



Curta a página oficial do Tribunal de Justiça (TJ/AL) no Facebook. Assista aos vídeos da TV Tribunal, visite nossa Sala de Imprensa e leia nosso Clipping. Acesse nosso banco de imagens. Ouça notícias do Judiciário em nosso Podcast.


Acesse














Comunicação
Divulgação




Institucional
Administração
As Origens da ESMAL
Galeria dos Ex-diretores


Organização
Constituição do Estado de Alagoas
Código de Organização Judiciária
Regimento Interno
Legislação/Atos Administrativos
Organograma


Coordenações
Coordenação Geral de Cursos
Coordenação Pedagógica
Coordenação de Cursos para Magistrados
Coordenação de Cursos para Servidores
Coordenação de Pesquisas
Coordenação de Projetos Especiais


Notícias
Notícias
Podcast
Vídeos


Espaço Físico


Cursos e Seleções
Cursos para Magistrados
Cursos para Servidores/Serventuários
Cursos Abertos ao Público
Cursos para Estagiários


Transparência


Serviços
Ramais
Convênios
Credenciamento de Professores


Banco de Sentenças


Biblioteca





ESMAL - Escola Superior da Magistratura do Estado de Alagoas
Rua Cônego Machado 1061, Farol, CEP 57.051-160, Maceió -Alagoas - Brasil.
Fone: (0**82) 2126-5399. CPNJ 08.771.179/0001-92.